Elísio Joaquim da Rocha (1923-2010)


No dia 09 de setembro de 1923 falecia em Petrópolis (RJ) o oitavo Presidente da República, Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca (1855-1923), que presidiu o Brasil de 1910 a 1914, na mesma data, a 2.145 quilômetros do centro do Poder Federal, na isolada comunidade Arara, pertencente ao município de Pio IX (PI), nascia Elísio Joaquim da Rocha. 

Após o período chuvoso, como de costume no mês de setembro a seca assolava a região semiárida piauiense, os animais quase não tinham pastagens. A água existente, fornecida por cacimbas escavadas de forma braçal no leito de riachos, era salobra e imprópria para o consumo. Pequenas barragens construídas nos encontros dos lajedos aproveitavam as enxurradas para garantir água potável por alguns meses. 

Naquele ano, o Piauí era governado pelo engenheiro João Luís Ferreira (1881-1927), que administrou o Estado de 1920 a 1924 e foi responsável por melhorar a infraestrutura com a construção de estradas de rodagens e ferrovias.

Hoje com 224 municípios, o Piauí naquela época contava com apenas 40 cidades distantes uma das outras e sem uma malha viária que pudesse facilitar a troca de mercadorias. Comunicação praticamente não existia, apesar da primeira transmissão de rádio no Brasil ter ocorrido um ano antes, em 07 de setembro de 1922, em comemoração ao centenário da Independência do Brasil, este serviço ainda estava distante de ser uma realidade. 

A população piauiense era desassistida em tudo e a ausência de ações governamentais gerou uma sociedade autossustentável. As famílias eram numerosas, cada uma possuía em média 15 filhos. Um núcleo familiar geralmente criava várias espécies de animais que fornecia carne, ovo e couro e cultivava desde a raiz de mandioca ao arroz.

O trânsito restrito de pessoas entre os povoados e cidades dificultava a circulação de doenças, mas por outro lado, com a falta de informação, de higiene e de assistência médica, muitas mulheres morriam durante o parto e crianças não resistiam uma semana de vida. As famílias que perdiam seus recém-nascidos os chamavam de “Anjos” que retornavam ao Céu, dependendo do sexo esses bebês recebiam nomes como “Maria”, “João” e “José”.

Maria Francisca das Dores (1897-1954), conhecida como “Didária”, havia passado o período de chuvas em estado de gravidez, era mais frio quando estava chovendo, ao mesmo tempo era tempo de cultivo da terra que exigia das mulheres uma carga de trabalho mais intensa. A família tinha que produzir o bastante para alimentação durante o restante do ano e garantir o excedente para ser trocado por outros produtos em feiras da região.

As dores do parto começaram bem antes, mas somente no domingo Elísio nasceu pelas mãos de uma “parteira”. Ele era o quinto de uma linhagem de 16 filhos do casal Joaquim Leopoldino da Rocha (1892-1975) e Maria Francisca das Dores. 

Como costume na Família Rocha, Elísio foi logo batizado tendo como padrinhos os avós paternos, o Major Leopoldino da Rocha Soares e Maria Francelina da Rocha, casal com quem passaria maior parte da infância na comunidade “Piranhas”.

Elísio estava com quatros anos de idade quando em 02 de janeiro de 1928, a 40 quilômetros, na comunidade “Barreirinhos”, município de Jaicós (PI), nascia Joana Eugênia da Rocha, com quem viria se casar e constituir família. Ela era filha do casal Olímpio Antônio de Souza (1896-1960) e Eugênia Joana de Jesus (1908-1970). 

Como Elísio, Joana também passou parte da infância com os padrinhos de batismo, o casal sem filhos legítimos Martinho Sancho Leal (1899-1965) e Bernardina Joana de Jesus (1897-1956). Bernardina era irmã de Eugênia, filha de Ladislau Pereira da Silva e Joana Maria da Conceição e tia legítima de Joana Eugênia da Rocha. 

A saudade dos pais biológicos era tamanha, que quando Joana se dirigia ao barreiro para buscar água, cobria as pegadas de Eugênia com cuias para evitar que os ventos as apagassem.

Elísio era bastante curioso e com facilidade reproduzia objetos e utensílios em madeira. Ele também aprendeu a arte da construção se tornando um competente mestre de obras. A sua residência como as dos seus filhos foram construídas sob sua orientação. 

O jovem sorridente e de boa aparência tinha 22 anos completos quando o primo legítimo Abel Leopoldino da Rocha (1921-1996) ficou noivo. A nubente era Bibiana de Souza Rocha (1926-2013), filha de Olímpio Antônio de Souza e Eugênia Joana de Jesus. 

A Alemanha acabava de ser libertada do Nazismo e no Brasil a o “Estado Novo” dava seus últimos suspiros quando o casamento de Abel e Bibiana foi marcado. Era terça-feira, 09 de outubro de 1945, sem saber o quê o destina havia lhe reservado, Elísio vestiu sua melhor roupa e seguiu montado para o local da solenidade. A cerimônia aconteceu pela manhã na Igreja de São João Batista [Alagoinha do Piauí], que ainda estava sendo construída por Marcos João de Carvalho (1916-1989), cunhado de Elísio. 

De repente, ela entre na Igreja e o coração de Elísio começa a bater mais forte. Naquele momento o jovem sabia que tinha encontrado a mãe de seus filhos. Joana, irmã da noiva, que estava de vestido e salto alto exibia sua beleza ao mesmo tempo em que trocava olhares com Elísio.

O almoço foi servido na casa de Antônio Paturi, amigo da família dos noivos. Foi durante a festa que num descuido, Joana escorregou e veio ao chão. Envergonhada, ela passou o restante do evento escondida em um dos quartos com as amigas lamentando o incidente.

Mas aquele encontro foi o suficiente para Elísio pedir permissão ao casal Olímpio e Eugênia para conhecer Joana e alguns meses depois, em 1946, os dois se uniram matrimonialmente em cerimônia celebrada na Igreja de Nossa Senhora das Mercês, em Jaicós (PI).

Antes de se casarem, Elísio foi algumas vezes a residência onde Joana morava para conhecer melhor a família da esposa. O percurso era feito em animal e durava a metade de um dia. Durante as visitas, os noivos não se encontravam, Joana ficava no quarto enquanto Elísio conversava com os padrinhos na calçada da casa.

Elísio e Joana eram primos em segundo grau que residiam em municípios diferentes, isso porque, Joaquim Leopoldino Rocha [pai de Elísio] e Olímpio Antônio de Souza [pai de Joana] eram primos legítimos. Maria Francelina da Rocha [mãe de Joaquim] e Antônio João de Souza Brito [pai de Olímpio] eram irmãos, filhos de João Pedro de Souza Brito e Maria Joaquina São José.

Após união, Elísio construiu sua moradia em Arara, erguida em alvenaria, era a maior casa da comunidade, contava com “eira” e “beira” [sinal de prestigio social na época], ao lado do imóvel foi levantando o aviamento onde eram realizadas anualmente as desmanchas, atividade que envolvia dezenas de famílias da região. 

Além de Maria que virou “Anjo”, o casal teve sete filhos: Afonso Elísio da Rocha (1947), Francisco Elísio da Rocha (1949), Agenor Elísio da Rocha (1950), José Elísio da Rocha (1952), Maria Didária da Rocha Carvalho (1955), Manoel Elísio da Rocha (1957) e Maria das Mercês Rocha (1958).

Elísio residia em Arara e matinha propriedade no povoado Alagoinha, as margens do Rio Marçal, e quando era tempo de seca a família se mudava para a “ribeira” onde encontrava água com maior facilidade, nessas constantes mudanças, alguns filhos nasceram no povoado e outros na comunidade rural.

Em 1961, os filhos mais velhos foram alfabetizados pela professora Maria de Lourdes Ferreira, que residia na cidade de Pio IX e lecionava na Unidade Escolar Alencar Mota, em Alagoinha. Os demais receberam aulas em casa ministradas pela professora particular Maria de Fátima [filha de Nicolau de Sérgio] e depois os estudos foram continuados com a orientação de Afonso Elísio da Rocha, filho mais velho, que após aprender ler e escrever fez o papel de professor ensinando aos demais irmãos.

Na década de 1970, Elísio foi um dos maiores produtores de algodão da região, gerando emprego e renda para famílias que trabalhavam em suas lavouras. Ele também atuava como pecuarista criando gado e ovelhas.

Conhecido em toda a região, Elísio de “Quinco” era respeitado por sua seriedade e honradez. Mesmo nunca tendo se candidatado a cargos eletivos, acompanhou de perto a política desde quando Alagoinha pertencia a Pio IX até finalmente ganhar autonomia administrativa e política em 09 de abril de 1986. Dois de seus irmãos se enveredaram pela política, Nemésio Joaquim da Rocha [eleito vereador de Pio IX e candidato a vice-prefeito de Fronteiras] e Francelino Joaquim da Rocha [vereador por dois mandatos em São Julião]. 

Na década de 1960, Joana foi diagnosticada com sério problema pulmonar teve que fazer tratamento em Teresina (PI) e em Fortaleza (CE). No final da década de 1980, ela sofreu paralisia facial e Elísio alugou uma casa em Picos para facilitar o acesso ao serviço médico. A saúde frágil de Joana que requeria repouso, fez com que Elísio mantivesse na maior parte do tempo uma empregada para cuidar das tarefas domesticas. 

Elísio, que começou fumar na adolescência, no início dos anos de 1990 passou mal e teve que ser transferido urgentemente para Picos (PI). O médico cardiologista Francisco Bezerra, o “Bezerrinha”, fez o atendimento. Entre as recomendações para o paciente conseguir sobreviver, estava deixar o cigarro e deste dia em diante Elísio nunca mais fumou.

Após aposentadoria, Elísio e Joana se mudaram definitivamente para Alagoinha do Piauí no segundo semestre de 1994. No início daquela década, o casal havia construído uma casa na Rua Trinta e Um de Dezembro.

Joana faleceu aos 74 anos de problemas cardíacos no Hospital Getúlio Vargas, em Teresina, no dia 18 de abril de 2002. Desde a morte da esposa, Elísio perdeu o brilho do sorriso e também a vaidade, deixou de usar a camisa para dentro da calça, o sapato social deu lugar a uma sandália e quase não usava o chapéu de massa “Ramonzoni XXX”. Ele dizia que a vida não era mais a mesma sem sua companheira.

Elísio faleceu aos 86 anos, no dia 15 de junho de 2010, no Hospital de “Doutor Oscar”, em Picos (PI), vítima de câncer de próstata.

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