João Leopoldino da Rocha Beleza (1895-1927)
"Proclamação da República", 1893, óleo sobre tela
de Benedito Calixto (1853-1927). Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo
Em 1895, o golpe político-militar da Proclamação da República estava consolidado com o advogado paulista Prudente José de Moraes Barros (1841-1902) no poder central como terceiro presidente do Brasil. Após dois presidentes militares, ele foi o primeiro civil a assumir o cargo e o primeiro mandatário a chegar a presidência através de eleição direta.
No Piauí, estava no executivo o governador nomeado, o militar Coriolano de Carvalho e Silva (1857-1926). Em sua administração, Coriolano fechou a Assembleia Legislativa, elaborou uma nova Constituição Estadual e construiu as estradas ligando as cidades de Valença, Picos e Jaicós.
General Coriolano de Carvalho e Silva - Foto: Barras Virtual
O pequeno João Beleza foi crescendo e o apelido ganhado carinhosamente dos admiradores ficava cada vez mais característico, não restando outra saída, a não ser oficializa-lo em documento como João Leopoldino da Rocha Beleza.
João Beleza já estava na adolescência quando o Major Leopoldino aceitou a oferta do sobrinho, o Cônego Marcos Francisco de Carvalho (1881-1923), que se propôs educar dois dos 12 filhos do fazendeiro. Era por volta de 1909, quando João e seu irmão mais velho Jaime Leopoldino da Rocha (1888-1973) saíram das Piranhas montados em dois muares rumo a São Raimundo Nonato, eram quase 500 quilômetros de distância em direção ao sul. O Cônego Marcos havia tomado posse na Paróquia daquele município em 26 de novembro de 1908, por provisão de 09 de agosto.
Jales Josino da Rocha, sobrinho de João Beleza e estudioso da história da Família Rocha, conta que a despedida foi bastante melancólica e dramática. Adultos, crianças, homens e mulheres, bem que tentaram, mas não seguraram as lagrimas ao presenciarem o voou das jovens aves, agora com asas, que deixavam o confortável e protegido ninho em busca do conhecimento.
O fato entrou para a história do lugarejo, hoje município de Alagoinha do Piauí (PI), como sendo os primeiros habitantes a migrarem para outra região do estado para estudar, atualmente procedimento trivial em todas as famílias das mais variadas camadas sociais.
Após uma temporada de estudos no sul do Piauí, João Beleza se mudou para Fortaleza, capital do Estado do Ceará. Devido à ausência de documentos e relatos não se tem como precisar quanto tempo o jovem residiu em São Raimundo Nonato e nem mesmo no litoral cearense.
No Ceará, João Beleza atuou no setor de comércio e na primeira metade da década de 1920 conheceu e se apaixonou pela jovem Primar Furtado de Albuquerque, nascida em 21 de agosto de 1901, em Fortaleza, filha do casal Marcos Furtado de Albuquerque e Ana Umbelina de Albuquerque.
Fortaleza na década de 1920 - Fotos e Fatos
Em 04 de abril de 1925, em Fortaleza (CE), perante o Juiz de Direito da 3º Vara, Carlos Livino de Carvalho, João Beleza e Primar uniram-se no matrimônio. A nubente passou a se chamar Maria Primar da Rocha Beleza.
De acordo com relatos de familiares, após o casamento, João Leopoldino da Rocha Beleza foi nomeado Promotor de Justiça da Comarca de Jaicós (PI), na época não era exigido diploma e nem tão pouco concurso público para assumir o cargo, apenas conhecimento e influência política, o que não faltava para ele, já que era filho do Major Leopoldino.
João Beleza era culto, amante da leitura e mesmo jovem, mas com grande experiência adquirida na efervescente Fortaleza do início do século XX, conquistava a todos com seu amplo conhecimento das mais diversas áreas e desenvoltura com as palavras.
Maria Primar com 25 anos - foto de 1926 - Arquivo de família
Maria Primar ficou grávida e teve o primeiro filho em 1926 que recebeu o nome de Thalles da Rocha Beleza. A criança viveu menos de dois anos e faleceu por volta de 1927, vítima de Meningite. O segundo e último filho de João Beleza e Maria Primar, Tácito da Rocha Beleza nasceu às 15 horas do dia 15 de janeiro de 1927, na cidade de Jaicós (PI).
Registro de nascimento de Tácito da Rocha Beleza - Fonte: Search Family
Jales Rocha conta que sua mãe, Maria da Rocha Filha (1903-2005), foi realizar uma visita ao irmão no leito de morte que sofria com fortes dores, estava muito inchado e gemia incessantemente com tamanha agonia, e levou no colo o pequeno Jofe Josino da Rocha (1926-2015), a inocente criança começou a imitar o sofrimento do tio moribundo, fazendo com que a senhora, desconcertada, saísse rapidamente do quarto.
João Beleza morreu provavelmente em 1927 com apenas 32 anos de idade. Seu corpo foi sepultado no cemitério da cidade de São Julião (PI), onde descansam eternamente os restos mortais de grande parte dos membros da Família Rocha.
Em terra de estranhos, Maria Primar decidiu não permanecer por muito tempo e optou por retornar para o seio de sua família sanguínea no Ceará levando o pequeno Tácito. De acordo com Sandra Benevides
Rocha, filha de Tácito da Rocha Beleza, que reside atualmente em Fortaleza (CE),
quando retornou ao Ceará, Primar trabalhou no comércio
com sucesso, confeccionando chapéus para senhoras da alta sociedade fortalezense.
“Ela era uma pessoa de excepcional bondade e até hoje nos inspira de todas as
maneiras.”
Formatura de Tácito em contabilidade
A jovem viúva criou e educou sozinha, o filho, que se diplomou em Contabilidade. Dono de uma inteligência acima do comum, o herdeiro de João Beleza trabalhou como assessor contábil para os Diários Associados, e entrou para o serviço público como servidor de carreira do Tribunal Regional do Trabalho onde atuou como Diretor de Contabilidade e Finanças.
Tácito casou-se com a professora de Línguas Neolatinas servidora pública
federal, efetiva, lotada na Auditoria Militar em Fortaleza e funcionária do I.A.P.I, Marisa Benevides Rocha, membro da tradicional família "Sá e Benevides" do Ceará, com quem teve cinco filhos: Sandra Benevides Rocha, Vânia Benevides Rocha, Roxane Benevides Rocha, Taciana Benevides Rocha e Vítor Benevides Rocha.
Tácito e Marisa com os filhos Sandra, Vânia, Roxane, Taciana e Vítor - Arquivo de Família
“O SR. MAURO BENEVIDES (Bloco/PMDB-CE. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, faleceu na última segunda-feira, em Fortaleza, o nosso ilustre coestaduano Tácito da Rocha Beleza, pertencente a tradicional família de nossa unidade federada, sempre desfrutando do respeito e da admiração dos seus conterrâneos.
Quando mais jovem, exerceu atividades nos Diários Associados, especialmente nos jornais Correio do Ceará e Unitário, então sob a superintendência do intelectual, de méritos incontáveis, Eduardo Campos, que se projetou nacionalmente como escritor, dramaturgo, folclorista, historiador, falecido no ano passado, quando se achava à frente do vetusto Instituto do Ceará — histórico, geográfico e antropológico.
Como qualificado servidor do Tribunal Regional do Trabalho, Tácito Rocha Beleza ocupou cargos de relevo, evidenciando em todos eles a sua reconhecida competência, o que lhe garantia a admiração e o respeito de quantos pertenciam àquela colenda Corte Trabalhista.
Casado com Marisa Rocha, com quem teve 5 filhos, o extinto pertencia a diversas entidades, relacionando-se com inexcedível afabilidade e tendo sempre comportamento ético irrepreensível.
Ao registrar, desta tribuna, o desaparecimento do ilustre conterrâneo, desejo levar às famílias enlutadas as minhas condolências, no meu nome e em nome da bancada cearense com assento nesta Casa legislativa.
Muito obrigado.”
(Necrológio do servidor público Tácito Rocha Beleza, do Estado do Ceará. – Hora: 14h16 Data: 20/05/2009 - Câmara dos Deputados)
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